1 de fevereiro de 2010

A jogada real

Laise Vieira

A brincadeira, ludus, o jogo, o teatro. Homens jogadores, jogadas a todo instante, processos contínuos, crianças no faz-de-conta e adultos mascarados. Eis o espetáculo!

Começamos a observar, a partir dessas palavras, os primórdios do teatro, em relação ao jogo. Segundo Huizinga, este “é o fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens se iniciassem na atividade lúdica.” A partir de estudos sobre o caráter e a essência do jogo, chegou-se às suas características fundamentais e formais. Dentre elas, mencionamos a liberdade, a evasão da vida real (seria mesmo apenas uma evasão?), o seu desinteresse, ou seja, como uma espécie de intervalo do cotidiano e a sua limitação espacial. No que respeita a essas particularidades, que é o teatro senão um jogo? Nele, os sujeitos têm a liberdade de criação e expressão, além de representarem atitudes que podem tanto negar quanto afirmar o período em que vivem. Além disso, na arte dramática, um dos fatores principais para a sua realização é o presente momento, que consiste em uma encenação em um determinado espaço.

Com base na relação que se estabelece entre o ser humano e o jogo, as teorias podem ser evidenciadas também nas práticas. A mais recente refere-se ao curso de teatro realizado com os adolescentes, nos municípios de São Sebastião do Paraíso e Guaxupé. Nesta turma, em específico, em uma aula que envolveu a questão “Por que ir ao teatro?”, um silêncio se instalou, no primeiro momento. Depois o fato: aqueles jovens que estavam ali, aproveitando as aulas e as oficinas, nunca antes haviam assistido a uma peça teatral. Poucos tinham referências de teatro apenas por meio de encenações produzidas por eles mesmos ou pelos colegas, em salas de aulas ou igrejas, com função informativa. Independentemente do referencial que eles traziam, ou não, consigo, o que percebemos é que tanto o desejo de alguns por continuarem a se envolver com a arte cênica, quanto até mesmo a representação estereotipada de outros, podiam estar associados com o termo utilizado frequentemente por Boal: espect-ator.

Assim, ficamos com a citação de Joana Lopes “somos todos atuantes, alguns serão atores de profissão”, certos de que o jogo está em andamento.

Um comentário:

  1. Laíse, muito legal seu artigo, eu percebo que ele vai muito ao encontro de tudo o que sempre pensei sobre jovem e teatro.
    Esse encontro é importantíssimo, porque mesmo que o primeiro não conheça o segundo em técnica ou mesmo por meio de presenciar apresentações mais "profissionais", esse ainda assim, tem a atenção despertada para esse mundo em que a realidade e a ficção se misturam e nunca se sabe onde um começa e outro termina.
    Mas o que fica, é a sensação de quero mais.
    Espero que nos próximos cursos de teatro, outras novas experiências possam nos trazer mais provas de que essa arte é tão necessária e que os jovens têm necessidade do contato mais formal com o teatro, para enfim se encontrarem e se transformarem. Uma vez que o jovem que assiste ou participa de uma montagem bem simples na sua escola ou igreja se vê atraído por novas sensações, também pode aprofundar seus conhecimentos e se tornar mais íntimo dessa forma diferente de se expressar.

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